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terça-feira, 25 de setembro de 2012

A uma esposa


Ergue um dique de silêncio,
A represar palavras
Irrecuperáveis.


Hoje o tens ao teu alcance.
Na ira que te arrebata,
Pode o látego da língua
Fustigar-lhe o coração.


Magoou-te...Mas quem sabe
Em que espinhos de amargura,
De fadiga e desencanto
Su' alma se machucou?


Hoje o tens ao teu alcance.
Mas a morte insidiosa
Talvez o leve amanhã.


Tentarás apagar o que dizes agora
Na água viva do pranto.
Em vão, o teu carinho acordará, tão tarde!
As palavras resvalam no muro da morte
E caem do lado de cá.

Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.63

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Prece

Imagem
Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas, 
Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d´alma alheia o espinho que magoa

Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.262

domingo, 23 de setembro de 2012

Sombra no muro


 imagem                                         

Persigo um pássaro
e alcanço, apenas,
no muro,
a sombra de um voo.

Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.66

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Rio de planície


Minha vida é um largo rio de águas mansas
- Vida sem ilusões nem esperanças -
De curso sempre igual.
Rio sem a imponência das cachoeiras,
Sem o encanto verde das ilhas,
Nem o ímpeto rumoroso das corredeiras.
- Sem grandes alegrias nem profundas mágoas - 
Rio de planície ignorada; rio, cujas águas
Passarão sem deixar memória
De sua silenciosa trajetória.

Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.28

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Eu comigo - Helena Kolody

 

 Eu comigo
 Muito briguei comigo,
 tive raiva,
 me insultei.
 E, de incontido desgosto,
 em meu próprio ombro chorei.

 Helena Kolody

Helena tem publicado doze livros de poesia e doze antologias ou coleções, além de um número significativo de poemas em jornais e revistas. A Poeta vem recebendo destaque junto à crítica paranaense e brasileira por sua constante produção poética. 

Segundo Wilson Martins, Helena Kolody vive o paradoxo de ser, enquanto poeta, uma "figura exponencial das letras paranaense", sem ter gravado o seu nome e sua obra no quadro mais amplo da literatura brasileira. Ela é, com certeza, "poeta do Paraná não apenas pela naturalidade regional, mas também por haver acrescentado a voz do imigrante à temática da poesia brasileira" (1995: 52).

Para ela, o amor ficou sendo só um sentimento, um sonho, e Helena Kolody soube muito bem transformar esses sentimentos em palavras melodiosas, o que levou alguns poemas seus a serem musicados. São versos carregados de um lirismo puro, que embalam reminiscências de amores de outrora (até mesmo a própria palavra tornou-se antiga) quando não era vergonhosa a expressão verdadeira dos sentimentos, como vemos no poema Cântico de 1941:

 A luz do teu olhar é a estrela solitária 
Da noite deste amor, que é feito de silêncio.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Para não te esquecer


Ontem, vi alguém
que tinha os teus olhos
e voltei a sofrer.
Era como se os tivesse deixado
deste lado
para eu não te esquecer.


Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.69

sexta-feira, 16 de março de 2012

Voz da noite


O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.
A voz da noite
diz, baixinho:
esquece...esquece...

Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.27

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dia da poesia - 14 de março

      Não sei se a poesia é uma oração, um desabafo ou uma canção.
     Só sei que ao ouvir ou ler uma poesia, todo o meu ser se inunda de um sentimento tão bom, que ela me enche de sonho, de esperança e ilusão. 
     Por isso gosto de compará-la a um desabafo, mas quando penso melhor, acho que ela é uma canção, mas lá no fundo sempre acreditei que fosse sim, uma oração.
     Ah! Isso não importa.
     O que importa é que hoje é o Dia da Poesia, e isso quer dizer que estou mais inspirada ainda em ler poesias, por isso vou compartilhar algumas com vocês:


 Algumas poesias de poetisas maravilhosas. Tão maravilhosas quanto suas poesias.



Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu.
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde é Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso,
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.

(Cecília Meireles - Cânticos)


A vida é linda,
mesmo doendo
nos desencontros
e despedidas,
mesmo sangrando
em melogrados,
áridos hortos,
searas maduras
de sofrimento.

Chegar ao porto
da vida finda
cantando sempre
sonhando ainda.

(Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.91) 


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro....
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

(Florbela Espanca)

terça-feira, 13 de março de 2012

Helena Kolody - Poeta Paranaense




Nós

        Fomos duas árvores castas
     Não misturamos raízes.
           Apenas enlaçamos os ramos
e sonhamos juntos.




       Helena Kolody - Sinfonia da vida, p.68

sábado, 3 de março de 2012

Helena Kolody - Poeta paranaense



"Vim da Ucrânia valorosa,
que foi Russ e foi Rutênia.
Vim de meu berço selvagem,
lar singelo à beira d´água,
no sertão paranaense.
Feliz menina descaça,
vim das cantigas de roda,
dos jogos de amarelinha,
do tempo do 'era uma vez..."


                                                        




Filha de imigrantes ucranianos, nasceu na cidade paranaense de Cruz Machado, em 1912, e passou a infância em Três Barras (SC).
Iniciou publicando seus poemas em jornais e revistas – então com 16 anos – e os primeiros livros foram publicados, na maioria, com seus próprios recursos.
Helena Kolody não se casou, e o foi para ela um sentimento inspirador, nunca concretizado, que transpareceu em seus poemas como um sonho, como algo doce e lírico.
Aos 80 anos passou a fazer parte da Academia Paranaense de Letras, sendo a segunda mulher a participar deste fechado círculo, antes reservado apenas aos homens.