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domingo, 29 de abril de 2012

Sem arrependimentos...


E, no entanto, não havia nada que se arrepender. Fizera alguma coisa. Ele fora alguma coisa. Suas lembranças não tinham se esfumado, como se costumava dizer. Nada disso. Suas lembranças eram como uma aquarela que tivesse sido exposta a chuva. As cores tinham se misturado, o desenho estava mais abstrato, ainda interessante, mas já com estrias escurecidas onde a água, em sua passagem, arrastara consigo um excesso de cores.
Livro: A jogadora de xadrez, Bertina Henrichs, p.148

segunda-feira, 19 de março de 2012

Não saber o que significa....ler.


Não estava preparada para a solidão. Não conhecia o consolo dos livros que a ele faziam companhia. Era uma grande diferença. No caso dele, a leitura chegara a ocupar um lugar jamais outorgado a nenhum ser humano. Por que perder tempo em inúteis conversações cotidianas quando podemos estar sempre em contato com os melhores e os mais instigantes pensadores de todos os tempos? Por que permitir que a vida seja ocupada por seres medíocres - atraentes, é verdade, mas de raciocínio fraco - , quando temos a possibilidade de visitar Platão, Sêneca e Proust? ...
...Mas como poderia descrever aquele universo amplo do pensamento em que se aventura a uma pessoa que nunca tinha aberto um único livro com prazer em toda sua vida, que não sabia o que isso significava?...
Livro: A jogadora de xadrez, Bertina Henrichs, p.78 e p.79

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A jogadora de xadrez



"Numa de suas noites de combate, deu-se conta, subitamente, de que todos os grandes teóricos eram homens. Nunca ouvira falar de alguma grande jogadora de xadrez. O talento para o tabuleiro parecia residir em algum lugar dentro dos testículos. Não nos de Panis, certamente, mas com certeza nos dos grandes mestres.
E, apesar disso, não era o rei que reinava na partida."


A jogadora de xadrez - Bertina Henrichs, p.94

O peão

Na postagem anterior, está descrito como Eleni interpretou o significado de cada peça no jogo de xadrez. Mas só depois que aprendeu a jogar, foi que ela entendeu o real significado da peça mais simples do tabuleiro.










"... As peças só adquiriam sentido se relacionadas umas com as outras.
      O peão era a base do jogo, pequeno soldado servidor, avançando em linha reta rumo ao seu único objetivo: bloquear o exército inimigo ou ascender socialmente. Podia se transformar em rainha, torre ou cavalo, conforme as necessidades do jogo. Se o peão era a alma do xadrez, a rainha era o coração."






A jogadora de xadrez - Bertina Henrichs, p.94

A jogadora de xadrez



Sempre gostei do jogo de xadrez, mas vou confessar que nunca havia parado para refletir o que suas peças significavam, nem acredito que isso passou despercebido por mim. Só por isso a leitura desse livro já vai ter valido a pena.


"Dispôs os dois exércitos, frente a frente, sobre o tabuleiro.(...) Estudou, então os movimentos que as diferentes peças podiam fazer. Os peões, na primeira fileira, não lhe pareceram dignos de grande interesse. Seu trajeto era simples, imutável e sem brio.
O cavalo pareceu-lhe o mais difícil de manejar, com seus saltos caprichosos e imprevisíveis. (...)


A peça mais pontuda, que ela não tinha conseguido reconhecer no quarto 17 e que lhe incutira aquele imenso desânimo, era o bispo. Esquisito, pois seus deslocamentos eram bem mais hábeis do que os do cavalo. Não era desse modo que Eleni imaginava um bispo. 
Nem, aliás, um rei. Como é que uma figura tão imóvel podia representar um rei? Não era nenhuma especialidade em realeza, mas sempre havia imaginado uma presença onipotente, composta de muito luxo e voluptuosidade. Aquele rei não tinha nada de majestoso. Incapaz de se defender sozinho, precisava ser protegido permanentemente pelas outras peças. Era ele, no entanto que definia o jogo. Eleni refletiu por alguns instantes a respeito desse paradoxo.
Em compensação, ficou chocada com a agilidade da rainha. Peça temível, reinava sobre a partida com seus avanços rápidos e suas múltiplas capacidades. A única figura feminina era a que possuía todos os poderes. Eleni gostou dessa ideia subversiva. quase deu uma gargalhada, mas segurou-se para não acordar Panis, que não aprovaria aquele ataque de risos em plena noite. Precisava contar para Katherina o caso da rainha. Ela não iria acreditar."


A jogadora de xadrez - Bertina Henrichs, p.37