Me sentia triste, mas o que, exatamente, me deixava tão triste? ... A gente não vê a dor. Não pode vê-la, simplesmente porque a dor não é visível, em nenhuma circunstância. No máximo, podem-se ver alguns de seus mínimos sinais exteriores. Mas esses sinais sempre me pareceram máscaras, mais do que sintomas. Como pode o homem expressar a angústia atroz de sua alma? Chorando bicas e dando berros? Balbuciando palavras desconexas? Gemendo? Derramando umas poucas lágrimas? Eu sentia que todas essas possíveis demonstrações de dor só eram capazes de insultar essa dor, de menosprezá-la, de profaná-la, de colocá-la ao nível de amostras grátis... Acreditei entender que o que às vezes nos comove na dor alheia é o temor atávico de que essa dor se transfira para nós.
Livro: O segredo dos seus olhos, Eduardo Sacheri, p.33
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